domingo, 22 de agosto de 2010

BASTA A RESPIRAÇÃO!...

...E que cada um de nós à medida que se apercebe do momento e da respiração,
e enquanto cria o espaço interior, aproveite esse lugar e esse momento especial,
para abraçar e integrar “todos os outros” no seu interior...

BASTA A RESPIRAÇÃO!...

Podemos descobrir o espaço interior criando lacunas no fluxo de pensamentos.
Sem elas, o pensamento torna-se repetitivo, desprovido de inspiração, sem nenhuma centelha criativa - e é assim que ele é para a maioria das pessoas. Não precisamos preocupar-nos com a duração dessas lacunas. Alguns segundos bastam. Aos poucos, elas irão aumentar por si mesmas, sem nenhum esforço de nossa parte. Mais importante do que fazer com que sejam longas é criá-las com frequencia para que as nossas actividades diárias e o nosso fluxo de pensamento estejam entremeados por estes espaços.
Certa ocasião alguém me mostrou a programação anual de uma grande organização espiritual. Quando a examinei, fiquei impressionado pela rica seleção de seminários e palestras interessantes. Esta pessoa perguntou-me se eu poderia recomendar uma ou duas atividades.
"Não sei, não. Todas elas me parecem muito interessantes. Mas eu conheço esta: tome consciência da sua respiração sempre que puder e sempre que se lembrar. Faça isso durante um ano e terá uma experiência transformadora ainda mais forte do que a participação em qualquer uma dessas actividades. E é gratuíta."

Tomar consciência da respiração faz com que a atenção se afaste do pensamento e introduz espaço. É uma maneira de gerar consciência. Embora a plenitude da consciência já esteja presente como o “Não-Manifestado”, estamos aqui para levar a consciência a essa dimensão.

Tome consciência da sua respiração. Observe a sensação do acto de respirar. Sinta o movimento de entrada e saída do ar que ocorrem no seu corpo. Veja e sinta como o peito e o abdómen se expandem e se contraem ligeiramente quando você inspira e expira. Basta uma respiração consciente para incluir espaço onde antes havia apenas uma sucessão initerrupta de pensamentos.

Uma respiração consciente (duas ou três seria ainda melhor) feita muitas vezes ao dia é uma maneira excelente de criar espaços na sua vida. Mesmo que você medite sobre sua respiração por duas horas ou mais, o que é uma prática adotada por algumas pessoas, uma respiração basta para torná-lo consciente. O resto são lembranças ou expectativas, isto é, pensamentos.

Na verdade, respirar não é algo que façamos, mas algo que presenciamos.

A respiração acontece por si mesma. Ela é produzida pela inteligência inerente ao corpo. Portanto, basta observá-la. Essa actividade não envolve tensão nem esforço. Além disso, faça uma breve suspensão do fôlego - sobretudo no ponto de parada no final da expiração, antes de começar a inspirar de novo. Muitas pessoas tem a respiração curta, o que não é natural. Quanto mais e melhor tomarmos consciência da respiração, mais a sua profundidade se estabelecerá sem esforço.
Como a respiração não tem forma própria, ela tem sido equiparada ao espírito - a Vida sem uma forma específica - desde tempos ancestrais. "O Senhor, Deus, formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida; e o homem tornou-se um ser vivente." A palavra alemã para respiração - atmen - provém do termo sânscrito Atman, que significa o espírito divino que habita em nós, ou o Deus interior.

O facto de a respiração não ter forma é uma das razões pelas quais a consciência da respiração é uma maneira perfeitamente eficaz para criar espaços na nossa vida, para produzir consciência. Ela é uma excelente ferramenta de meditação justamente porque não é um objecto, não tem contorno nem forma. O outro motivo é que a respiração é um dos mais subtis e aparentemente mais insignificantes fenómenos, a “coisa menor”, que, segundo Nietzsche, constitui a "melhor felicidade".

Cabe a você decidir se vai ou não praticar a consciência da respiração como verdadeira meditação formal. No entanto, a meditação formal não substitui o empenho em criar a consciência de espaço na sua vida cotidiana.

Ao tomarmos conciência da respiração, vemos-nos ou sentimo-nos conduzidos a concentrar-nos no momento presente - o segredo de toda a transformação interior e espiritual. Sempre que nos tornamos conscientes da respiração, permanecemos absolutamente no presente. Percebemos também que não conseguimos pensar e manter-nos conscientes da respiração ao mesmo tempo.

A respiração consciente suspende a atividade mental. No entanto, longe de estarmos em transe ou semidespertos, permanecemos acordados e alertas. Não ficamos abaixo do nível do pensamento, mas sim acima dele. E, se observarmos com mais atenção, veremos que essas duas coisas – o nosso estado de presença plena e a interrupção do pensamento sem a perda da consciência - são, na verdade a mesma coisa: o surgimento da consciência de espaço.

pág. 211 do livro "O Despertar de uma Nova Consciência" de Eckhart Tolle - Ed. Sextante


 
http://www.espacointegral.com/

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