terça-feira, 14 de agosto de 2012

Abrir os olhos para a contemplação do Mundo (6) "AS 4 VIRTUDES DO DESLUMBRAMENTO" Com música de Lisa Gerrard " Paradise Lost"..(Immortal Memory)

"AS 4 VIRTUDES DO DESLUMBRAMENTO"

Contrariamente àquilo que muito desejaríamos acreditar, o deslumbramento não cai do céu. É preciso estimular e praticar quatro virtudes: o desejo, a coragem, a perseverança e a gratidão.
Não existe sequer um milagre de Jesus Cristo que não tenha começado por esta pergunta: tu queres ser curado? Dito de outro modo, a vida interessa-te? Queres a vida ou não?
Qualquer milagre começa por um desejo, uma necessidade/desejo de ir em direção à vida e encontrá-la. E existem então várias maneiras de valorizar a solidez desse desejo. 
Primeiro é importante não se deixar abater pelas dificuldades e resistir na adversidade. E isso, claro, exige coragem.
Segundo é não se permitir ser derrotado pelo sucesso: aquele que tiver sucesso não deve parar, mas continuar a ir em frente. A perseverança é a própria essência da criação. Deus não criou o universo num dia e de uma vez por todas, ele não pára de criá-lo. Toca-nos também a nós começar, e recomeçar sem cessar.
E por fim, quando o nosso desejo for satisfeito, precisamos de agradecer. A ingratidão não é apenas má educação, é sobretudo violência! Um mundo sem gratidão é um mundo sem piedade. Dizer obrigado, é também uma maneira de concluir as coisas para que outras possam acontecer. A combinação destas quatro virtudes dará origem a verdadeiros milagres.

domingo, 12 de agosto de 2012

Abrir os olhos para a contemplação do Mundo (5) "Como podemos abrir-nos de novo ao deslumbramento, uma vez que nos tornámos céticos? Com música dos Portishead - "Roads"

Abrir os olhos para a contemplação do Mundo (5)

"Como podemos abrir-nos de novo  ao deslumbramento, uma vez que nos tornámos céticos?

Olhemos primeiro como funciona o deslumbramento: não é um ato voluntário, ele surge sem avisar. Reencontrar a capacidade de se maravilhar pode abrir a porta do caminho. É importante reconhecer que nunca foi perdido, foi simplesmente esquecido. Entrando em contato com a nossa criança interior, nós podemos cultivar um estado de ser que nos permite ver mais frequentemente o maravilhoso no nosso dia a dia. Aprendendo a relaxar conscientemente, abandonando as nossas certezas para escutar a sabedoria intuitiva que nos murmura com alguma frequência que existe uma verdade mais além do caminho normal das coisas.
(continua amanhã... "AS 4 VIRTUDES DO DESLUMBRAMENTO")

sábado, 11 de agosto de 2012

Abrir os olhos para a contemplação do Mundo (4) "No entanto a fronteira entre deslumbramento e ingenuidade é, às vezes, muito fina..."

"No entanto a fronteira entre deslumbramento e  ingenuidade é, às vezes, muito fina..."

Há quem afirme que não existe nada de mais adulto nem mais sério que deslumbrar-se. Nós agimos de maneira infantil e ingénua quando confundimos  o maravilhoso com o milagroso. O milagroso está, fundamentado na esperança de que qualquer coisa exterior a nós vai resolver todas as nossas dificuldades, através um golpe de varinha mágica, e, de facto, essa maneira afasta-nos dos nossos próprios recursos. A espera ilusória do milagroso é um signo infalível da ignorância do facto que em realidade tudo é maravilhoso. Ali mesmo, onde o maravilhoso cria um vínculo e enriquece a nossa vida, a ingenuidade induz a expetativa - a mesma do bebé que é preciso alimentar - e que pode desde logo levar a graves deceções. Deslumbrar-se, é simplesmente, deixar-se tocar pela beleza das coisas, sem nenhuma expetativa. 
(...continua amanhã...) 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Abrir os olhos para a contemplação do Mundo (3) E em quê o "deslumbramento" pode mudar a nossa relação com o mundo? Com música de Charles Mingus - "Goodbye Pork Pie Hat"

E em  quê o "deslumbramento" pode mudar a nossa relação com o mundo?

Passamos a maioria do nosso tempo a interpretar em vez de ver. E assim acabamos por projetar o nosso mundo interior com os nossos conteúdos em vez de nos deixarmos tocar pelo que está ali naquele precioso e único momento. O deslumbramento, que pode surgir quando nos encontramos diante de uma montanha é antes de mais uma impressão de outro tipo, que vem normalmente da profundidade do nosso ser, é como se uma porta se entreabrisse e nos permitisse ver o que estava ali realmente em vez de acedermos a uma interpretação de cariz cultural ou científica. O deslumbramento pode  devolver-nos a nossa responsabilidade de co-criadores da nossa realidade. No sufismo, afirma-se que a criação, este misterioso recurso do ser, é um ato de emaravilhamento. O vínculo entre o deslumbramento e criação é um ponto crucial. Sem deslumbramento a fonte da nossa criatividade deixa de fluir.
Einstein também dizia: « O mais belo sentimento que podemos experimentar, é o do mistério, que é a fonte de toda a arte verdadeira e de toda a verdadeira ciência. Aquele que nunca conheceu este estado e que não possui o dom de emaravilhamento nem de encantamento, mais valia que não existisse: os seus olhos estão fechados.»
(...continua amanhã)


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Abrir os olhos para a contemplação do Mundo (2) com música:

Numa época eternamente «em crise», ou medo, as queixas e a cólera dominam, e deslumbrar-se pode parecer supérfluo e inocente, ou mesmo estúpido e perigoso. 

Que pena! Deslumbrar-se religa-nos à nossa essência espiritual e a uma forma de sabedoria ainda mais preciosa quando a nossa época está mais confusa e perturbada. É provável que estejamos a atravessar uma crise de significado. Vivemos atualmente na oposição, no confronto, com um pensamento binário. À noção de progresso, que nos dominava até aqui, fundamentada sobre o conhecimento e as descobertas científicas que de certo modo nos conduziu à crise atual, nós poderemos responder, abrindo-nos a novas possibilidades, e o deslumbramento pode ser uma chave. É uma das vias que nos permitem aceder à consciência do vínculo que nos une ao planeta, aos seres vivos e à fonte de toda a vida. O nosso mundo necessita deste deslumbramento para voltar a encontrar uma visão do mundo no equilíbrio original. Este estado emocional agradável e aparentemente efémero pode abrir um caminho de conhecimento essencial para o desenvolvimento da nossa maturidade.
(...continua amanhã)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Abrir os olhos para a contemplação do Mundo (1) com música: Gifts From Enola - Trieste

       Abrir os olhos para a contemplação do Mundo
  
        "O deslumbramento precedeu a humanidade."
                                                                       Henri Gougaud

Na sua célebre autobiografia, Karl Jung fala de uma viagem a África, em Dogon, onde ele se encontrou de frente a uma imensa falésia virada para oeste, e que em baixo estava uma aldeia. Enquanto Jung estava sentado entre os nativos na aldeia e contemplava o mais fabuloso pôr-do-sol que já tinha visto, ele apercebeu-se ao levantar a cabeça, que dezenas de macacos estavam sentados à beira da falésia, e que também eles observavam o sol a desaparecer no horizonte. Admirado, Jung perguntou aos nativos se os macacos faziam isso habitualmente. Responderam-lhe que, tanto quanto os seus antepassados se lembravam, os macacos comportaram-se sempre daquela maneira. E Jung pensou então que o sentido de mistério e de deslumbramento existia já entre os macacos, e ele brincou: « Talvez eles observem o pôr-do-sol dizendo: - Deve ser o momento de colocar uma questão, mas qual? Nós somos humanos, e não macacos a partir do momento em que temos uma pergunta e a colocamos. E a pergunta primordial, que fundamenta o primeiro conto, é certamente: - Sol, tu regressas amanhã? Mas, o deslumbramento, ele próprio, parece preceder a humanidade.
(continua amanhã...)