sábado, 1 de junho de 2013

O aprendiz e o feiticeiro (19) "Somos todos reis magos num caminho perpétuo em direção a uma esperança de renascimento."

O aprendiz e o feiticeiro (19)
Eu não me perdi. O meu pai índio deve estar contente. Creio que ele observava a minha vida como uma águia que contempla uma paisagem desde o alto céu azul. Ele via-me caminhar, em baixo, via o que eu não podia ver, os ribeiros, as montanhas, a multidão, os desafios que me esperavam, ao longe. Ele não podia apagá-los, ele não poderia alimentar-me com a sua energia e esperar que fosse suficiente para que eu pudesse superar os obstáculos. Eu ignorava tudo isso, durante o tempo em que estive ao pé dele, eu percebia mal, provavelmente, o que ele me queria ensinar. Eu era apenas como uma criança no início de uma longa viagem. E dizia-lhe:

- Tenha piedade do aprendiz, ele está perdido!

Ele respondia-me:

- Não é grave. Quando o aprendiz se tornar um velho artesão, além, do outro lado do oceano, ele compreenderá.

Eu nem percebia de qual oceano é que ele falava. Imaginava-me um ancião, num país celeste, mais além das vicissitudes da existência. Ele falava simplesmente deste lugar onde estou agora, que ele não conhecia e que, no entanto, já tinha visto. Ele repetia-me continuamente:

- Não é o que eu digo que é importante, importa é o que tu sentes. Entra na tua Pachamama (divindade dos Andes, a Mãe-Terra), na terra do teu corpo. Prova, cheira, escuta, apalpa, mantém-te alerta ao silêncio da tua terra. No fundo desse silêncio, alguém dorme. Sopra sobre o seu rosto, ele abrirá os olhos, e verás cair uma pluma do céu, a sétima. A pluma do Desperto. A partir do momento em que ela toque a tua cabeça tu saberás caminhar verdadeiramente, sem muletas e com os olhos abertos. Já não serás mais prisioneiro dos teus caprichos, dos teus humores, das tuas crenças, dos teus sonhos e do teu passado.
Quando ele me disse isto, ainda não me tinha falado das sete plumas da águia. O que é que eu poderia compreender? E disse:
- Mas se eu saio do meu passado, não terei mais mãe, nem idade, nem recordações, mais nada!
- O que é que tu sabes da minha existência? Tu nem conheces o meu nome verdadeiro. Olha para mim. Achas que eu não sou nada?
- O que é que fica então, diga-me, quando não temos mais passado?
- A liberdade dos anjos, aquela que se banha no amor em tudo o que vive.
Ele não me instruiu, encheu a minha mochila com as provisões necessárias para a minha viagem. Aquilo que não me deu, ele sabia que eu o encontraria durante as minhas jornadas. O seu olhar era o de uma ave, o seu coração, o de um pai amoroso e confiante. Eu não sei se ele ainda pertence a este mundo de hoje. Onde quer que ele esteja, que a minha gratidão o alcance, e que ele abençoe esta paragem na vossa companhia.
Vocês quiseram que eu vos falasse e eu falei convosco. A hora chegou de dizer ao vento: «Nós confiamos-te as nossas palavras. Transporta-as como carregas tudo, pólen, pó, folhas mortas. Se elas não forem mais do que pó, que elas regressem ao pó. Se forem vivas, então que alimentem a vida.» Continuemos agora o nosso caminho. Desde já vos previno, é infinito. Somos todos reis magos num caminho perpétuo em direção a uma esperança de renascimento. Alguns veem a morte à sua frente, mas não, ela está atrás, sempre atrás, na terra sustentada pelas palmilhas do tempo…

(Se fizerem um livro da minha história, eu gostaria que ele fique aberto não à última página. mas à graça de Deus… Luis A.)

Extratos inspirados e traduzidos do livro de Henri Gougard “Les Sete plumes de l’aigle”- Éditions du Seuil

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António Vieira
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